Karin Anderten Psicóloga e psicoterapeuta (DGPT), com formação em massagem de som Peter Hess
Processamento do stress através dos sons – aspetos físicos, mentais e espirituais.
A psicóloga e psicoterapeuta Karin Anderten explica nesta comunicação o fenómeno da ressonância e compara os pontos de vista psicoterapêuticos com os que estão na base da massagem de som. Aborda em especial o significado da ressonância no processo de relacionamento entre o praticante de massagem de som e o cliente.
A massagem de som Peter Hess é um método holístico de relaxamento que ajuda a eliminar tensões físicas, mentais e espirituais. O processamento emocional do stress é um ponto fulcral da psicoterapia. Ambos os processos se baseiam no mesmo princípio básico – a ressonância. Na massagem de som, a ressonância surge como uma experiência auditiva e vibro-táctil da vibração. Na psicoterapia, é a empatia, a capacidade compreensiva e assertiva de sentir com o outro, que pode ser experienciada como ressonância útil. A possibilidade de a pessoa se sentir vista, compreendida e aceite pode ser muito eficaz para aliviar tensões.
Conceito de ressonância
Mas o que é afinal a ressonância? Todos nós conhecemos o conceito e temos alguma noção do que o mesmo significa. No dicionário, o termo ressonância é descrito como a capacidade de vibrar. É uma descrição correta mas não abrange tudo o que a ressonância representa. Num artigo publicado na Internet, a autora Kathrin Klink ocupa-se do fenómeno de forma mais exaustiva. Na impossibilidade de o formular melhor, passo a citá-la: “… O termo “ressonância” deriva do verbo latino “resonare”, que significa voltar a soar ou reverberar, e funciona como uma espécie de eco. Através do princípio da ressonância, estamos permanentemente em relação e em interação com tudo o que nos rodeia. A ressonância é um dos princípios básicos da nossa vida, não a podemos evitar e normalmente não a podemos controlar… A ressonância baseia-se no facto de as vibrações semelhantes reagirem…entre si.” Podemos “…imaginar as nossas células como uma espécie de minúsculos diapasões afinados uns pelos outros e ligados entre si, que intercomunicam no plano vibracional. Se as células ou grupos de células estiverem “desafinadas”, esta comunicação é perturbada… por outro lado, cada sentimento, cada palavra ou conversa, cada impressão e cada experiência que vivenciamos produz alterações no plano vibracional e deixa vestígios no nosso sistema… O plano material segue as informações pré-definidas através das vibrações…”
A moderna investigação do cérebro – a neurobiologia e a neurofisiologia – chega às mesmas conclusões. Fala de memória das células corporais que armazenam todas as vivências sob a forma de informação. Se, para além disso, tivermos presente que todo o nosso sistema de propulsão e controlo – ao contrário do que sucede nos mamíferos guiados pelo instinto – assenta no processamento de informações, a grande importância da ressonância torna-se mais do que óbvia. O controlo pelo instinto processa-se através de reflexos, quando, após o nascimento do juvenil, são ativados os correspondentes mecanismos de desencadeamento. Os seres humanos, para além do reflexo da preensão e da sucção, não possuem nenhum outro controlo que funcione por reflexos. O nosso cérebro e o nosso sistema neuronal estão, após o nascimento, de certa forma, orientados para a “absorção”, ou seja, instruídos para a necessidade de o seu estado mental, nomeadamente a harmonia ou a desarmonia, o prazer ou a aversão, a fome ou a saciedade e muitos outros serem respondidos do exterior como fenómeno ressonante relativamente à vivência do próprio estado. O “ressoar”, o “reverberar” de que nos fala Katrin Klink é assim uma componente essencial da estrutura e do sistema de controlo humanos. O controlo pelo instinto, em contrapartida, segue em traços largos um programa inerente ao organismo, em que as experiências a fazer estão entrelaçadas.
As experiências moldam o nosso padrão de vida
Nos seres humanos, este “programa” ou padrão de vida surge apenas através das experiências feitas que desencadeiam no cérebro estímulos chave, libertando, desse modo, substâncias mensageiras e, consequentemente, impulsos e vibrações através dos quais ocorre no cérebro o crescimento das terminações nervosas e respetivos centros de distribuição, as sinapses. A nossa estruturação ocorre essencialmente através de processos estimulativos que, no início da vida, através da experiência prazer-aversão, deixam os seus primeiros engramas ou traços de memória, como que num diário interno. A moderna investigação chama constantemente a atenção para o facto de toda a experiência adquirida ser armazenada como informação no organismo e poder ser consultada como desempenho cognitivo, em caso de necessidade. No cérebro, podem preponderar, como centrais de distribuição, a estrutura e o controlo, e nas células corporais poderá estar mais sediada a vivência dos estímulos no campo de tensão agradável-desagradável, ao passo que o espírito armazena fundamentalmente as experiências emocionais como fome-saciedade, prazer-aversão, satisfação e frustração e tudo o mais que nos move.
A ressonância liga a vida interior à exterior.
Do que foi dito pode inferir-se em que elevada medida a experiência de ressonância liga o mundo interior ao exterior, desenvolvendo a partir daí um sistema emocional de valores, que constitui o húmus para o conceito de vida individual que, uma vez estavelmente instalado, nós seguimos de forma quase tão sonâmbula como o animal segue o seu modelo instintivo. Os três domínios – corpo, mente e espírito – podem ser experienciados pela vivência consciente através do nosso mundo sensorial, a nossa emocionalidade. O prazer e a dor, a satisfação e a frustração são experienciados como vida interior, mas também como ressonância, reverberação, enquanto processo vibracional interpessoal. A nossa capacidade de vibração mais intensa desenvolve-se quando estamos felizes. Vivemos esse momento como uma unicidade com o todo, connosco próprios, com o mundo e com a vida. Parece não haver nada de separador, nenhuma barreira impede o fluir da sensação de felicidade, o mundo parece vibrar em harmonia com a nossa felicidade. “Eu podia abraçar o mundo inteiro”, esta afirmação traduz claramente o que acabamos de dizer. Mas qual é a sensação quando nos sentimos infelizes, tristes, desiludidos, desesperados e desfavorecidos pelo destino? O mundo parece-nos vazio ou hostil e nós retraímo-nos, recolhemos todas as antenas que nos ligavam ao exterior. O humorista Eugen Roth escreveu um poema sobre a melancolia que reflete de forma expressiva esta situação. Reza assim: Há dias em que, sem motivo, o mundo nos desagrada profundamente. Pensas silencioso nesses dias até através de Goethe e de Schiller E contemplas um Ticiano sem que ele te toque no íntimo. E consideras um trecho de Bach basicamente fraco e pouco imaginativo. Em resumo: o mundo do belo não te penetra nem através de palavras, nem de imagens ou de sons Isto pensas tu – e não te dás conta – será a suma arte da humanidade? esta famosa fronteira brilha na imortalidade? Esperamos somente que o teu lúgubre ataque de desapreço pela arte passe. Senão, dirige-te para os mortos, mais não se pede nesta Terra. Facilmente se percebe aqui que toda e qualquer capacidade de ressonância cessou e deu lugar a um estado de solidão e isolamento. Não requer grande esforço imaginar que um tal estado se faz acompanhar de tensão e contração que se podem manifestar a nível físico, mental e psíquico.
Proposta de harmonização pelo som
No trabalho com as taças de som, é nossa preocupação sintonizar, através da proposta de som, todo o organismo com a frequência vibracional, sem tensões, que está presente nas células como traço de memória e que pode ser invocada. Consequentemente, o relaxamento está sempre no fulcro da nossa ação. Pelo meu trabalho como psicoterapeuta sei como uma tal proposta de harmonia pode ser assustadora. Se no percurso de vida pessoal as necessidades e aspirações permanecerem, em ampla medida, por satisfazer, se se tiver vivenciado um reduzido grau do afeto necessário ao desenvolvimento da confiança e da auto-confiança, se a exigência excessiva, em detrimento do encorajamento, fragilizarem a energia vital, se a doença estiver presente em tal grau que já não possa ser debelada, o espírito tem de criar um programa de emergência, ao mesmo tempo que, por assim dizer, “retira da rede” todos os sentimentos de tristeza, angústia, dor, raiva, dúvida e desespero, isto é, bloqueia os sentimentos. A pessoa agarra-se, então, ao seu poder de compreensão e procura controlar sozinho a sua vida através do controlo racional. É sobejamente sabido que as soluções de emergência não podem ser soluções duradouras. Em algum momento a satisfação das necessidades vitais terá de ser forçada, através de doenças quer psíquicas quer psicossomáticas.
Quando os sons tocam em bloqueios profundos
Talvez se tenha, entretanto, tornado mais claro que as propostas de relaxamento, quando tocam bloqueios desse tipo, podem provocar ataques de ansiedade e de pânico. Nestas áreas de bloqueio, a ressonância está desativada. Se, por exemplo, a taça de som tocar nesses bloqueios, o relaxamento é o efeito desejado, mas os sentimentos bloqueados e insuportáveis poderão ser mobilizados e enquanto a consciência partir do princípio de que nunca conseguirá gerir esses pensamentos e circunstâncias, o resultado só pode ser o pânico. E chego agora ao ponto pelo qual gosto de colocar à discussão estes raciocínios. O instrumento útil no trabalho psicoterapêutico é o facto de o psicólogo ter aprendido a contornar os problemas com a paleta completa de sentimentos e situações. Não entra em pânico e oferece ao doente uma base de ressonância que permite enfrentar em pequenos passos as emoções e circunstâncias angustiantes e perceber que estas não o aniquilam tal como receava. A massagem de som – tal como já se referiu e é sobejamente conhecido – coloca a tónica no relaxamento, algo que não deve, de forma alguma, ser alterado. Mas considero importante deixar claro que o relaxamento pode arrastar consigo toda uma paleta de sentimentos que tem de encontrar não só na taça como também no praticante de massagem de som uma base de ressonância capaz de aguentar o insuportável. Por isso, o praticante de massagem de som não tem de ser igual a um psicoterapeuta. Na minha opinião, trata-se muito mais de integrar também no domínio da formação contínua as viagens de fantasia emocionais ou algo de semelhante. A auto-experiência refletida e o próprio desenvolvimento da personalidade do praticante de massagem de som têm aqui um papel importante. Quanto mais se integrar os pensamentos reprimidos e bloqueados no consciente e quanto mais se tiver vivenciado em si próprio os múltiplos efeitos dos sons, mais capacidade de vibração e de ressonância surgirá. Vou agora fantasiar um pouco: durante uma massagem de som, o praticante apercebe-se da existência de medo no cliente, fica também com medo e a massagem é interrompida com palavras tranquilizadoras. Ambos ficam então retidos no medo, porque não há ressonância e, consequentemente, não se lida com o problema. Não há para o cliente qualquer ressonância. O praticante poderá sentir-se incompetente. Inversamente, o praticante também poderá dizer: também estou a sentir esse medo. Vamos ver o que podemos fazer com ele se permitirmos a sua presença. Vamos tentar aguentá-lo. Nesse caso, estará criada a necessária base de ressonância. Essa reação só é possível se a própria pessoa tiver experienciado que os sentimentos ameaçadores perderam o seu caráter assustador assim que passaram a poder ser geridos. Caso o praticante de massagem de som bloqueie os seus próprios sentimentos e estados, não há lugar a qualquer ressonância, porque as “vibrações semelhantes” não podem reagir entre si. Na minha opinião, a ressonância e a tolerância são um sistema de prontidão que atua em silêncio em prol de uma vida ativa, para a formação e a transformação, para a libertação e a renovação. Estes potenciais não estão presentes apenas em nós, seres humanos, mas em toda a criação. Joseph Eichendorf di-lo com lirismo no seu breve poema “Varinha de vedor”: Dorme uma canção em todas as coisas que sonham sem cessar E o mundo ergue-se num cântico se encontrares a palavra mágica.